segunda-feira, 5 de outubro de 2020

ARTIGO: VERNIZ DE POBRE 


Por: Itamilson Lima (Eleitor de São Luís) 

“Sou apaixonado pela minha cidade, SOU FILHO DE UM ANTÔNIO COM UMA MARIA. Dessa forma o deputado federal Eduardo Braide começa sua apresentação no primeiro debate entre os candidatos a prefeito de São Luís, evento promovido pela Rede Band de televisão em parceria com a TV UFMA e rádio Universidade FM no dia 01 de outubro. 


A capciosidade por trás da apresentação de Braide demonstra sua preocupação em construir para o eleitor uma imagem de um homem simples, comum e do povo. Por isso é importante destacar que esses nomes bastante comuns entre trabalhadores pobres e facilmente encontrados em cada esquina de nossa periferia sempre designaram também ricos e nobres ao longo da história. Dito isto, Eduardo é filho de um certo “Dom Antônio” que não é o Orleans de Bragança e de uma Maria da estirpe da Antonieta.

A disputa pelo poder ao longo da nossa história tem sido recheada de artifícios e artimanhas de líderes políticos que visam ao convencimento do povo menos favorecido - maioria entre os eleitores - de que o seu nome é o mais interessante pra receber sua confiança. Todavia, embora haja e é importante que exista diálogo entre esquerda e direita por ser atributo da democracia, é fundamental entender que o “dono” do espaço onde a tratativa acontece é determinante para saber quem cede mais ou menos em favor do outro. Ou seja, o diálogo é indispensável, mas é a classe que o governante representa que certamente cederá menos.

Os termos “direita” e “esquerda”, bastante comuns no ambiente político, têm certa complexidade para ser explicados em reduzidas linhas. No entanto,se consegue entender mais rapidamente do ponto de vista do papel do estado. A “direita” tradicionalmente defende um “Estado Mínimo” e enxerga o bem-estar social patrocinado pelo governo como um paternalismo entravador do desenvolvimento econômico do país.

Se isto procede, como os governos dos petistas Lula e Dilma conseguiram desenvolver a economia, pagar a nossa dívida externa, retirar mais de 38 milhões de pessoas da pobreza, elevar os investimentos gastos com saúde e educação e posicionar o país entre as 6 maiores economias do mundo - tudo isso sem a austeridade do “Estado Mínimo”? Muito pelo contrário, se pautaram em uma robusta agenda de programas sociais, provando que a selvageria dos liberais passa muito mais pela ganância e desejo de manutenção dos privilégios de um seleto grupo que por ampliar o conceito de desenvolvimento social e dignidade para a população em sua diversidade socioeconômica.

O atual governo brasileiro, por ser de extrema direita, tem sido a maior manifestação de Estado Liberal já experimentado no Brasil e apresenta-se profundamente comprometido com as grandes fortunas, o que leva os mercados a uma disputa desenfreada e à acumulação desigual do capital. Um governo que precisa reduzir o papel do estado para alcançar seu fim e reforça o aprofundamento das desigualdades sociais. Não é mera coincidência que as estratégias adotadas são a retirada de direitos trabalhistas e previdenciários do trabalhador e restrição dos gastos públicos, sobretudo os destinados a programas que visem beneficiar a população mais carente. Como se pode ver, trata-se de um governo completamente voltado aos interesses da grande burguesia. De olho na prefeitura de São Luís, eis a razão da maioria dos candidatos de partidos aliados ao atual governo federal se esconderem atrás de um discurso de defesa aos menos favorecidos e citando da boca pra fora denominadores comuns falaciosos.

“Meu lado é o lado do povo. Eu, toda minha vida pública, estive ao lado do povo nas minhas votações, nas minhas atuações (...) o meu lado é o seu, que acorda cedo, que precisa pegar ônibus lotado e essa realidade que vai acabar a partir de janeiro”. Eis a afirmação de Eduardo Braide, candidato pelo PODEMOS, um dos principais partidos aliados do governo de Jair Bolsonaro, em uma de suas réplicas no citado debate. Candidato este que está coligado a outras legendas da base bolsonarista e, portanto, descomprometido com Antônios, Marias, Franciscas, Josés que estão na base da cruel pirâmide social brasileira quando aplaude ou faz vista grossa a tanto retrocesso e humilhação.

Diante de tal discurso, ressoa em mim a sensação de que Braide fantasia sobre a realidade do “pobre”: sujeito que simplesmente não faz parte das altas castas privilegiadas. Talvez pela avidez em disparar frases de efeito, o candidato não se dá conta que oferece ouro de tolo aos seus possíveis eleitores com tal aposta. De fato, condução lotada é um problema que merece atenção, mas está longe de ser um dos maiores desafios enfrentados pela população mais ampla em nossa cidade (assim como em qualquer outra capital brasileira onde predominam os interesses da iniciativa privada e a ausência do estado). Desse modo, o filho de um Antônio e Maria nobres expõe um conhecimento muito fragmentado das dores e delícias da população menos abastada - o que é natural já que sua origem é outra completamente díspare dada a história de seus familiares de classe alta: seu pai foi cinco vezes Deputado Estadual, Presidente da Assembleia e Governador do Maranhão.

O bom discurso faz bem, empolga e, às vezes, até encanta, mas é a partir dos atos e conchavos que se conhece verdadeiramente quem o líder está representando: o povo ou a burguesia?


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